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Auditório do Memorial não tem alvará de funcionamento, diz Prefeitura

O Memorial da América Latina não possui alvará de funcionamento para o auditório Simón Bolívar, que foi atingido pelo incêndio na tarde desta sexta-feira (29), na Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Licenciamentos, o documento, que deve ser renovado anualmente, estava irregular desde 1993. Procurado pelo G1, o presidente do Memorial nega a informação de que o espaço funcionava sem a documentação exigida atualmente.

O conjunto arquitetônico na Barra Funda foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Inaugurado em março de 1989, tem 84,4 mil metros quadrados e é de responsabilidade do governo estadual. A área inclui espaços para exposições e eventos.

Apesar da falta da documentação exigida há 20 anos, a Prefeitura de São Paulo realizou uma audiência pública, em setembro deste ano, para apresentação das propostas dos consórcios selecionadas para a transformação da área conhecida como Arco Tietê, uma das promessas da campanha eleitoral do prefeito Fernando Haddad (PT).

De acordo com a prefeitura, existe um processo solicitando novo alvará de funcionamento. No entanto, ainda não foram apresentados os documentos e os atestados assinados por profissionais responsáveis pelas condições de segurança de uso pelo Memorial da América Latina. O centro cultural afirmou que possui uma autorização especial para utilização do auditório, fornecida pela própria Prefeitura.

Segundo a administração municipal, foi realizada uma vistoria no local em maio para realização de um evento temporário em um dos auditórios do local. Na ocasião foram encontradas irregularidades na “instalação elétrica e acúmulo de matérias”. O centro cultural recebeu uma intimação para a execução de obras e serviços e teve todas as solicitações atendidas para regularização.

O cineasta João Batista de Andrade diz que quando assumiu a presidência do Memorial, há cerca de um ano, detectou esse problema e procurou solucioná-lo. “O pedido de alvará estava décadas na Prefeitura esperando a liberação. Consegui com a prefeitura uma licença especial para utilização do Simón Bolívar, exigido pelos próprios patrocinadores de eventos e fui à Prefeitura pessoalmente”, afirma ele.

Andrade diz que o local possui laudo do Corpo de Bombeiros e estava funcionando dentro das normas de segurança. Segundo ele, a aprovação do alvará de funcionamento do local estava disponível no site da Prefeitura há cerca de 2 meses. “O documento não chegou, mas chegou a informação de aprovação do alvará, estava esperando receber o papel”, ressaltou.

O cineasta não quis comentar se houve omissão da Prefeitura na demora da liberação da documentação. Questionado sobre a ausência da licença por 20 anos, ele disse que não poderia responder pelas administrações anteriores do Memorial.

Feridos
O Corpo de Bombeiros disse que 16 homens – 15 integrantes da corporação e um bombeiro civil – ficaram feridos nesta sexta-feira (29) no incêndio no auditório do Memorial da América Latina, na Avenida Auro Soares de Moura Andrade, na Barra Funda. Segundo o major Mauro Lopes, porta-voz dos bombeiros, dois deles sofreram ferimentos graves.

Os bombeiros feridos foram vítimas, segundo o porta-voz, do chamado “flashover”, ou combustão súbita. Isso acontece em ambientes fechados, quando o material que está queimando libera gases. Quando os bombeiros abriram a porta do auditório, esses gases entraram em combustão em contato com o oxigênio. Os dois bombeiros que estão em estado mais grave tiveram queimaduras nas vias aéreas, mas não correm risco de morte.

Por volta de 23h, os bombeiros ainda combatiam pequenos focos de incêndio, enquanto o trabalho de rescaldo era realizado no restante do local atingido. De acordo com o coronel Agassi, não há mais risco de propagação. O Hospital das Clínicas informou que dois bombeiros permanecem em estado grave e outros quatro estão estáveis e permanecem internados em observação. Os demais feridos, já foram liberados.

Na manhã deste sábado, 16 equipes dos bombeiros permaneciam no complexo para o trabalho de rescaldo.

Ao todo, 109 bombeiros e 64 carros foram deslocados para o combate às chamas no Auditório Simón Bolívar. Os bombeiros que precisaram de atendimento médico foram levados ao Hospital das Clínicas (HC), de acordo com o hospital. Quatorze dele tiveram ferimentos leves.

Não havia informações sobre as causas do incêndio, de acordo com os bombeiros. Segundo a assessoria do Memorial, há suspeita de que um curto-circuito em uma lâmpada tenha sido a causa do incêndio. O presidente da Fundação Memorial da América Latina, João Batista de Andrade, disse que o incêndio pode estar relacionado a uma queda de energia registrada momentos antes de o fogo começar. “Houve uma queda de energia. Foi alguma coisa ligada à queda de energia e ao gerador”, afirmou Andrade.

Andrade disse que toda a programação do auditório está suspensa até a reforma do espaço, que tem capacidade para 1,6 mil pessoas. Segundo ele, é preciso um laudo técnico para avaliar o prejuízo causado pelas chamas. O auditório está no seguro. Segundo ele, o Memorial tem a vistoria do Corpo de Bombeiros. “Está tudo em dia.”

Funcionários retirados
Segundo o Memorial da América Latina, havia funcionários no auditório quando o incêndio começou, mas eles foram retirados rapidamente e não sofreram nenhum ferimento.

O auditório tem um palco central e a plateia dividida em duas metades. De acordo com a assessoria do Memorial, o forro da plateia B do auditório foi bastante danificado pelo incêndio.

O espaço tem uma tapeçaria de 620 metros quadrados feita pela artista Tomie Ohtake.

Tomie Ohtake
A artista plástica Tomie Ohtake disse que “ficou triste” com o incêndio no auditório do Memorial da América Latina nesta sexta-feira (29). Em declaração, ela se mostrou disposta a refazer a tapeçaria de sua autoria que ocupa a lateral da construção e foi atingida pelo incêndio. Até as 22h, não havia sido divulgada a dimensão dos danos na peça.

“Quando Oscar [Niemeyer] me convidou para fazer o trabalho para o auditório do Memorial, fiquei feliz por ser uma obra em escala inusitada, uma tapeçaria que toma toda a parede lateral do teatro, acompanhando as duas plateias e o palco – e dentro daquela obra fantástica do Oscar. Fico triste com o incêndio do auditório. Quanto ao painel, temos que começar então a trabalhar para refazê-lo”, disse em declaração enviada ao G1 pela assessoria do Instituto Tomie Ohtake.

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