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Alunos de colégio de SP fazem &#39saiaço&#39 em protesto contra a direção

Estudantes do ensino médio do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, foram para aula nesta segunda-feira (10) vestindo saia, inclusive os meninos, em protesto contra um incidente envolvendo dois alunos que usaram saia na semana passada. Na última sexta-feira (7), um dos jovens foi retirado da aula por estar de saia. A mobilização foi feita nas redes sociais e envolveu até ex-alunos de um dos mais tradicionais colégios de São Paulo. A direção do colégio permitiu que os estudantes assistissem às aulas de saia e disse que apesar de o Bandeirantes nunca em sua história ter uniforme escolar, os alunos devem seguir um código 'informal' de vestimentas.

Dezenas de meninos foram para a escola de saia comprida. Um deles até usou 'kilt', a saia escocesa. As meninas também foram de saia longa e algumas de gravata.

O caso começou na quinta-feira (5), quando um aluno do segundo ano colocou saia e top para brincar a festa junina e foi contestado pelo professor quando entrou para assistir a aula daquela maneira. No dia seguinte, o estudante Pedro Brener, de 17 anos, do terceiro ano, foi à escola usando saia. Encaminhado à coordenação pedagógica, a escola afirmou que se um professor se sentisse desconfortável poderia o tirar da aula. O jovem foi então suspenso e, segundo a escola, os pais foram chamados para buscá-lo.

“Não impomos uma maneira de se vestir, muito menos fazemos discriminação de gênero. Isso não quer dizer, no entanto, que não temos um código de conduta informal”, afirma o diretor-presidente do Colégio Bandeirantes, Mauro de Salles Aguiar. “O professor não podia permitir ao aluno ver a aula daquela forma escrachada, também não podemos permitir um aluno vir à aula vestido como padrinho de casamento ou com trajes de banho.”

Segundo o diretor, como os estudantes podem sair do colégio nos intervalos, ele poderia ter sua segurança ameaçada por estar vestido daquele jeito. “Estamos em um bairro com movimentação de pessoas de todos os segmentos da população. Aqui é a Vila Mariana, não é a Vila Madalena (bairro de São Paulo famoso por concentrar a chamada 'elite intelectual'). Existe um temor que os alunos possam ser vítimas de discriminação, afirmou o diretor.

Sem citar o nome do aluno ou dos pais, Aguiar disse: “Como os pais desse jovem colocam o filho em um laboratório social e deixarem a segurança dele em risco? O que fizeram foi tentar desmoralizar uma escola com quase 70 anos de tradição.”O pai do aluno rebate: “Se a preocupação era com a segurança, não deviam ter deixado meu filho do lado de fora da escola. Meu filho foi de saia para a escola, um ambiente seguro, não podia imaginar que a escola iria agir de maneira retrógrada.” Brener diz ainda que “causa perplexidade o despreparo do diretor para enfrentar a rebeldia dos adolescentes” e que a “escola tem problemas mais graves que um grupo de alunos que quer se vestir de maneira diferente”.

No fim de semana, alunos e ex-alunos organizaram pelo Facebook um protesto contra o colégio. Um grupo de ex-alunos escreveu carta de repúdio ao ocorrido. “O que aconteceu foi um absurdo”, afirma a ex-aluna Karina Piva, de 21 anos, que faz faculdade na Escola Politécnica da USP .”Não é um atentado ao pudor, o colégio sempre permitiu até vir de chinelo para a aula, e o uniforme nunca foi obrigatório no Bandeirantes.”

Ela lembrou que na USP, uma mobilização semelhante aconteceu depois que um aluno do curso de moda da USP Leste sofreu ofensas nas redes sociais por ter ido de saia para a faculdade. “A diferença é que aqui é o colégio quem agiu contra o aluno”, disse Karina.

A direção do colégio afirma que faz um trabalho pedagógico junto aos professores para mostrar que existe uma tendência dos jovens à ruptura do modo convencional de se vestir, masculino e feminino. “Não vamos entrar nesse jogo de quererem nos taxar como a fronteira do Jair Bolsonaro”, disse o diretor Aguiar, referindo-se ao deputado federal famoso pelo pensamento contra ações anti-homofobia.

Fundado em 1944, o Colégio Bandeirantes tem 2.700 alunos, 150 professores e no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), teve a quarta maior média entre as escolas da cidade de São Paulo. A mensalidade custa por volta de R$ 2.400. “A gente recebe alunos de todas as partes, e posso dizer que a diretoria é menos conservadora do que a própria comunidade e os professores”, afirma Aguiar.

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